9 de jul. de 2017

FLORESCER A LUZ DAS ESTRELAS - Câncer




            Câncer nutre, alimenta, protege, ama, acaricia, cuida, cria, gera ternura, encanta-se diante da vida, sonha, chora, envolve-se, mas principalmente sente. Todas essas características tendem a ficar escondidas debaixo da carapaça do caranguejo como forma de sobrevivência numa sociedade em que o intelectual é privilegiado em detrimento do intuitivo e do emocional. Tendemos a achar que os sentimentos e sensações não são formas de conhecimento e entendimento do mundo. No entanto, esquecemos que eles são nossa primeira forma de contato com o mundo ao nosso redor.
            De fato, é através das sensações que guiamos nossas primeiras ações no mundo: o que gosto de comer? Em qual posição me sinto confortável? O que é agradável aos meus olhos? Temos naturalmente um senso estético que nos ajuda a julgar o mundo. 
            No entanto, não apenas para julgar a beleza ou o conforto nos servem os sentimentos, mas também para avaliar nosso comportamento. Segundo o filósofo David Hume, quando afirmarmos que algo é errado, estamos dizendo isso com base em um sentimento de repulsa, isto é, teríamos também um senso ético. Ao vermos uma ação correta nos alegraríamos com ele e, ao contrário, ao vermos uma ação errada ou injusta sentiríamos uma espécie de asco, uma repulsa. Isso quer dizer que nossa conduta moral dependeria mais dos nossos sentimentos do que de razões lógicas. Para Hume, agimos com base em nossos sentimentos.
            Tal perspectiva coloca uma dupla responsabilidade: primeiro, devemos procurar entender nossos sentimentos e emoções para entender qual é o curso de ação mais adequado; em segundo, devemos criar uma segurança em nosso próprio senso moral, independente das opiniões e concepções alheias.
            Frente a isso, em Câncer, vivemos um grande dilema: permanecemos protegidos pela carapaça, no colo da mãe ou libertamos nosso potencial criativo. Como energia de nutrição do processo de individuação, Câncer nos possibilita ir ao encontro de nossas necessidades básicas, promovendo alimento e abrigo físico, emocional, intelectual e espiritual, proporcionando segurança emocional a si  próprio e aos outros. 
            Em Câncer, somos chamados a sentir profundamente, a cortar o cordão umbilical com a sina familiar, a abandonar o ventre seguro do lar e a escolher a própria direção. Para isso, é necessário nos libertarmos dos condicionamentos do passado e aprender a usar nosso conhecimento, nossa história, como um recurso para o crescimento e não como única referência de segurança. Ao invés de buscar a segurança nos outros, família, emprego, instituição, é necessária a construção, em nosso íntimo, de um ninho de onde nossa individualidade possa irradiar-se com segurança. 
            Precisamos aprender em Câncer a assumir a vida como um desafio, resgatando e apoiando-nos no passado, sem nos deixar ser vítimas dele, abrimo-nos para o que está por vir, sem querer a eterna segurança da repetição. Só assim seremos capazes de gestar nossa própria individualidade, expressar  nossas verdadeiras emoções,  encantamo-nos diante do outro e amar incondicionalmente: nossa grande tarefa dentro do ventre cósmico.

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