Astrologia é um tema hoje envolto em muitos significados
e preconceitos, e por isso mesmo pouco entendido. Para alguns, uma forma de
prever o futuro; para outros, um modismo passageiro, usado como desculpa para
não se assumir a responsabilidade em relação à própria vida: “Sou assim porque
Plutão, no meu mapa....”; para outros ainda uma arte de adivinhar por meio dos
astros ou de fazer previsões.
O termo
Astrologia deriva de duas palavras gregas: “Astra” e “logos” e significa
literalmente “conhecimento das estrelas”. Não se pode precisar seu início, pois
surgiu no momento em que os seres
humanos, olhando o céu, procuravam entender seus mistérios, defendendo-se de fenômenos até então não
dominados como o trovão, as enchentes e as chuvas. Os primeiros observadores do céu não tinham
idéia da verdadeira natureza das estrelas. Para eles, os pontos cintilantes,
disseminadas ao acaso, que surgiam no céu após o entardecer, eram chamas
celestes, acendendo-se com o fim de atenuar as trevas noturnas e orientá-los em
seus afazeres cotidianos. Como nômades e caçadores, precisavam estudar os ciclos da natureza e seus
inter-relacionamentos, para entender a migração dos animais. Com o
desenvolvimento da agricultura, o ser humano perdeu sua característica de
nômade, precisava se fixar num local e aprender a voltar para casa depois da
caça. Precisava, então, de um ponto de referência. Notando que o aspecto do céu
era sempre o mesmo para uma dada estação do ano, sentiu a necessidade de
relacioná-lo com acontecimentos do dia-a-dia.
Usou as estrelas, reunindo-as em grupos, o que deu origem às
constelações. Como era caçador, viu no céu caças e caçadores: Órion, Leão; como
era agricultor viu: Aquário (chuvas), Virgem (colheita); como era pastor viu
Boiadeiro, Capricórnio, Carneiro. No
século XV, com as grandes navegações e as
viagens para o hemisfério sul da Terra, novos grupos desconhecidos de
estrelas foram vistos. Como
navegador, viu no céu: Sextante, Cruz,
Ave do Paraíso, Bússola, Relógio, dentre outras. Hoje, infelizmente, não
olhamos mais para o céu, buscando uma referência. Hoje olhamos para a
televisão, para a moda, para o que é “fashion” . Mas, se olhássemos, o que
veríamos?
O céu era povoado com recordações encantadoras
e feitos heróicos, imortalizando as histórias dos deuses, semideus e heróis da
antigüidade. Ao perceber a relação entre o movimento dos astros e a
sazonalidade dos fenômenos climáticos, o homem elegeu os astros como deuses,
principalmente os que se moviam em relação aos demais: eram os planetas,
incluindo aí o Sol e a Lua.
No Egito
antigo, as enchentes do Nilo eram
previstas, observando-se os movimentos
da Estrela Sírius, da constelação Cão Maior, que eles chamavam de Sotis. Na
Babilônia e no Egito, a Astrologia foi
usada como um instrumento de previsão acessível só à realeza e aos ricos. Na
Bíblia, encontramos exemplos de que o homem procurava no céu os sinais e
explicações dos acontecimentos: “Onde está o rei dos Judeus, que acaba de
nascer? Porque nós vimos a sua estrela no Oriente, e viemos adorar”( Mt 2,2).
Na medicina,
desde a Idade Média, era essencial
conhecer os movimentos dos astros para a marcação de cirurgias ou
sangrias, procedimento muito comum para prevenção e tratamento de doenças. “...o sangrador tinha simultaneamente de ser
um pouco astrólogo, uma vez que as sangrias só produziam efeitos quando os
astros, (especialmente a lua) se encontravam em determinadas posições.”[1]
Na Renascença, a Astrologia permeou todos os aspectos do pensamento científico.
Não se tratava de uma doutrina de um círculo fechado, mas de um aspecto
essencial da estrutura intelectual em que os homens eram educados.
A primeira
Universidade que o mundo conheceu,
criada em Bolonha, no ano de 1126, continha em seu currículo (do latim
curriculum - órbita) dois grupos de matérias: o Trivirum, que continha as
matérias ligadas às letras: dialétia/lógica, retórica e gramática; e o
Quatrivirum, ligado ao número: geometria, aritmética ou razão, música e
astrologia. Essas matérias eram básicas para qualquer curso (do latim cursum -
voo). Em 1666, foi retirada da Universidade pelo Ministro Colbert, em função da descoberta de ser o mundo
heliocêntrico. Já que a Terra não é o centro do universo, supôs-se que a
Astrologia perderia seu ponto de referência. No entanto, a Astrologia tem uma
visão egocêntrica do céu, isto quer dizer, que quando olhamos para o céu temos
a impressão de que este é um enorme hemisfério estando, nós, observadores, no
centro da esfera.
Foi Copérnico, no
século XVI, quem propôs o sistema
heliocêntrico. Para ele, religião era
uma forma para se alcançar a verdade do céu, enquanto a ciência era um método
de verdade do Universo, composto apenas de matéria densa. Deu aos seres humanos
a vantagem de ver como a verdade é apreendida, trazendo como conseqüência o
preconceito de que nosso sentimento e intuição não são confiáveis.
Estabeleceram-se duas espécies de conhecimento: o racional, a ciência e o
intuitivo, a religião. O conhecimento racional deriva da experiência que
possuímos no trato com objetos e fatos,
discrimina, divide, compara, mede e categoriza o mundo dos opostos que
só pode existir em mútua relação. O conhecimento intuitivo deriva do
misticismo, do que não pode ser explicado pela via da razão.
Até então, todos os estudiosos das estrelas eram
considerados astrólogos, mas devido às discordâncias internas da Igreja,
passou-se a denominar astrólogo àquele que não estava de acordo com os dogmas
da Igreja e astrônomo (ciência que trata da constituição e movimentos dos
astros) ao que defendia os dogmas cristãos.
No século
XVII, René Descartes, com
seu postulado “Cogito Ergo Sun”, penso logo existo, iguala a identidade
do ser humano apenas à sua mente. Provoca uma hierarquia, em que a mente
separada do corpo deve controlá-lo. O
que fundamenta a validade de um conhecimento passa a ser somente a atividade
racional do homem. Descartes elabora o
método científico, cujos princípios básicos são o da neutralidade do
observador; do determinismo causal, da
redução do todo em suas menores partes e do materialismo, conceito segundo o
qual tudo o que conhecemos é feito de matéria, incluindo a mente a e consciência.
Desde então, a
Astrologia foi relegada de sua posição de ciência e tida como superstição,
misticismo. Durante quase trezentos anos, o que determinou o “status” de
ciência a qualquer matéria foi atender a esses princípios e tudo o que não é
comprovado, testado e repetido não merece atenção ou importância
científica. Separou-se o mundo em
partes, em disciplinas, para se aprofundar o conhecimento, para se controlar a
natureza e os acontecimentos. Separou-se o mundo interior do mundo exterior. Este passou a ser
constituído de imensa quantidade de objetos e fatos que devem ser isolados para
ser compreendidos. A sociedade foi fragmentada, criando-se diferentes nações e
raças. Com isso perdeu-se a noção do
todo, do UNI (um só) Verso (princípio}.
Com a física
moderna, esses paradigmas começam a ser revistos. A mecânica quântica trabalha
com conceitos de probabilidade e incerteza, complementaridade onda-partícula,
não-localidade e entrelaçamento do sujeito com o objeto. “A natureza no nível
quântico não é uma máquina que segue, inexorável, seu caminho. Em vez disso, a
reposta que obtemos depende da pergunta que fazemos, do experimento que
montamos, do instrumento de registro que escolhemos. Estamos inescapavelmente
envolvidos em fazer com que aconteça aquilo que parece estar acontecendo.”[2]
Na visão quântica, o argumento fundamental é que escolhemos o resultado
específico que se manifesta. O postulado: Penso, logo existo é reformulado
para: Escolho, logo existo.
A suposição
básica de que tudo é feito de matéria é substituída pelo novo paradigma, segundo
o qual a consciência é o substrato de tudo o que existe: não há objeto no
espaço-tempo sem um sujeito consciente observando-o. Einstein prenuncia o princípio energético único, segundo o qual toda a energia constituinte do cosmo é a
mesma apenas multifacetada numa miríade de formas e funções. Donde se conclui
que todo o sistema solar, assim como
todo o universo conhecido, faz parte de um só e mesmo sistema energético.
Diante de tais princípios, o que estava separado, colocado numa relação de
causa e efeito, passa a ser visto como uma síntese, numa relação de
sincronicidade. Já que tudo faz parte de um só sistema: o que é no céu é na
terra, o que acontece dentro, acontece fora. Concebendo o Universo como uma
teia de padrões de energia em que tudo está inter-relacionado, o observador e o
observado se tornam influenciados mutuamente. A idéia de que tempo e espaço nos
influenciam, e de que podemos alterar os efeitos dos astros sobre nós mudando
nosso ponto de referência no tempo e no espaço, não é mais tão inconcebível.
Universo cósmico e universo humano, destino celeste e destino interior, não
podem mais ser concebidos senão como a expressão da mesma realidade. Quanto
mais penetramos no mundo submicroscópico, mais compreendemos o mundo como um
sistema de componentes inseparáveis, em permanente interação e movimento, sendo
o ser humano parte integrante desse sistema.
Dentro desse
contexto, a Astrologia, como forma de ver o mundo em sua totalidade, cria
símbolos que procuram restabelecer a
relação adequada entre o microcosmo e o
macrocosmo. Estuda as correspondências entre os padrões celestes e as
situações na terra e no interior da psique humana, partindo da concepção de que
o ser humano é síntese essencial das estruturas e dos processos universais, uma
entidade integrada ao cosmo e em permanente situação de ressonância bilateral
com ele. Suas premissas básicas são: o
cosmo é ordenado; o céu, a terra e a humanidade compartilham da mesma ordem
(macrocosmo e microcosmo são paralelos um ao outro, mantém entre si relação de sincronicidade); o
cosmo está cheio de significado e propósito e a consciência é parte integrante
da sua realidade última.
Como linguagem simbólica, a Astrologia une,
reproduz a totalidade do universo, do ser, juntando todos os aspectos da vida:
filosofia, ciência, religião e arte. Reafirma a força e a capacidade iniciais
perdidas pelo ser humano quando foi separado em disciplinas, quando a unidade
do ser humano e da natureza foi quebrada. Na unificação do céu e da terra, do
micro e do macrocosmo, do ser humano com a natureza, readquirimos nossa força,
nosso poder criativo, nosso poder de determinar não só nosso destino, mas o
destino da Terra e do Cosmo. A Astrologia é um poderoso instrumento de
sintonização com o Cosmo e com nosso Ser, possibilitando a tomada de
consciência (“scire”- conhecer e “cum”- com)
de nosso papel no processo de evolução.
Do caos
(“kaos”, do grego confusão) se fez a ordem (“kosmos”, do grego). Podemos usar a
Astrologia para transformar nosso caos interno (quem sou, o que sinto) num
grande kosmos e evoluir espiritualmente.
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